Baleia Azul "Diabólico"
Às 11:30, Deste Domingo, 30/04/2017
Jogo da Baleia
Azul: Até que ponto devemos nos preocupar ?
Relatos no
Brasil citam adolescentes vulneráveis que estariam sendo encorajados a retirar
a própria vida em desafios online; conheça histórico do caso e saiba como
detectar sinais de assédio na internet.
Prefeitura de
Curitiba (PR) emite alerta diante de tentativas de suicídio de jovens. Em
Goiânia (GO), polícia investiga a automutilação de adolescentes. Belo Horizonte
(MG), Pará de Minas (MG) e Arcoverde (PE) apuram mortes suspeitas com o mesmo
perfil. O Ministério da Justiça aciona a Polícia Federal para investigar o jogo
virtual que teria relação com esses e outros casos recentes de suicídios e
automutilações pelo país.
Relatos sob
investigação no Brasil em abril de 2017 citam adolescentes vulneráveis que
estariam sendo encorajados a retirar a própria vida por meio de uma série de
desafios online.
Sabe-se que
esses desafios, conhecidos como "jogo da Baleia Azul", tiveram origem
em 2015 nas redes sociais da Rússia e se espalharam pela Europa nos últimos
dois anos.
Na Rússia, as
mortes de alguns adolescentes foram relacionadas ao jogo - embora não haja confirmação
sobre esses relatos.
A ideia é que
indivíduos estariam sendo convidados a completar um número de tarefas em 50
dias. As tarefas ficariam cada vez mais danosas à pessoa e terminariam com um
desafio ao suicídio.
Há preocupação
que a ideia esteja se espalhando pelo mundo - e pelo Brasil - por meio de redes
sociais.
Mas como
diferenciar o que é fato e boato nessa história, que por muitas vezes assume
contornos de lenda urbana? Com questionamentos sobre a própria existência do
desafio, e sem conexões comprovadas entre as mortes da Rússia e o jogo, quão
preocupados devemos estar?
O que é a
Baleia Azul?
Há certa
confusão sobre a origem do nome, mas acredita-se que seja uma referência a um
comportamento de certas baleias azuis, que aparecem em praias e morrem
encalhadas.
O nome estaria
sendo usado por grupos de pressão na internet, que indicariam um "curador"
ou "administrador" que encorajaria participantes a completar testes
em 50 dias.
As tarefas
iriam de demandas simples, como assistir um filme de terror, a pedidos mais
sinistros, como automutilações e suicídio.
Infelizmente é
comum que grupos em redes sociais atraiam adolescentes, causando danos à saúde
mental desses jovens.
Origem dos
grupos
O primeiro elo
nessa cadeia de eventos foi o suicídio, em novembro de 2015, da adolescente
russa Rina Palenkova, de 16 anos.
Fotos
publicadas pela jovem antes do ato, a mensagem de despedida e supostas fotos do
corpo viralizaram no Vkontakte, ou VK, espécie de Facebook russo.
O VK permite
que usuários faturem atraindo tráfego para comunidades online criadas dentro da
rede social. Com isso, alguns viram oportunidade de negócio no apetite de
adolescentes por imagens e informações sobre o suicídio de Rina.
Assim surgiram
os chamados "grupos da morte" da web russa. Esgotado o material
autêntico sobre a jovem, tais grupos começaram a produzir ações interativas
baseadas em narrativas fictícias - incluindo a de que Rina teria integrado uma
seita secreta e sido a primeira a cumprir as etapas de uma "missão"
que teria culminado no suicídio.
Do underground
ao escândalo
Esses grupos
deixaram de ser um fenômeno underground e se transformaram em escândalo na
sociedade russa com a publicação, em maio de 2016, de uma reportagem-denúncia
pelo jornal Novaya Gazeta, conhecido pelas críticas ao Kremlin.
A reportagem
trazia o depoimento de uma mãe de uma menina de 12 anos que se suicidou. A mãe
dizia ter investigado a tragédia e descoberto o elo da filha com os grupos.
Oscilando entre
indignação emotiva e sensacionalismo, o material afirmava que "ao menos
80" entre 130 suicídios de jovens supostamente registrados na Rússia de
novembro de 2015 a abril de 2016 envolviam vítimas que participavam desses
grupos.
A reportagem
provocou comoção, mas também críticas. Algumas diziam, por exemplo, que os
números citados careciam de fontes e que administradores dos "grupos da
morte" não tinham sido ouvidos.
Outros veículos
da imprensa russa entraram na história e produziram outros relatos. Supostos
curadores de "grupos da morte" consultados disseram que o objetivo
era atrair jovens com tendências suicidas, e então dissuadi-los; outros, que
tudo não passava de uma arapuca financeira.
Um dos
curadores citados pela Novaya Gazeta, Filipp Budeikin, de 22 anos, disse que
tudo não passava de "piada". Em suas comunidades, contudo, Budeikin
se referia aos jovens como "lixo biológico" a ser eliminado. Ele
acabou preso em novembro de 2016, acusado de incitar pelo menos 15 suicídios, e
aguarda julgamento.
Segunda onda
A imprensa
russa voltou a mencionar o fenômeno no início deste ano, citando um surto de
buscas online, nos países da antiga União Soviética, por expressões como
"baleia" e "baleias azuis", e a emergência da hashtag
#ojogo na rede social VK.
Ao mesmo tempo,
reportagens do site americano de checagem Snopes e do grupo Radio Free
Europe/Radio Liberty concluíram que não havia evidências que ligassem atos de
violência na Rússia - suicídio ou agressões a terceiros - ao jogo virtual.
A Radio Free
Europe, por exemplo, descreveu um mundo em que os dois lados do jogo pareciam
não levar nada muito a sério - "curadores" que pediam dinheiro em vez
de tarefas mórbidas e "vítimas" que se inscreviam por brincadeira.
Também no
começo de 2017, o assunto chamou a atenção de tabloides britânicos, como Daily
Mirror e The Sun, que resgataram o material original da Novaya Gazeta. Assim a
história chegou ao Ocidente.
A narrativa começou
a atrair atenção no Brasil no início de abril, provocando preocupações e e um
furor midiático semelhantes aos observados na Rússia e em ex-repúblicas
soviéticas.
Para o
pesquisador americano Benjamin Radford, autor de livros sobre lendas urbanas, a
situação tem "todas as características de um pânico moral", nome dado
por cientistas sociais a temores que se espalham de modo irracional.
Radford
identifica nessa tendência elementos familiares a outros casos de medo
coletivo: uma ameaça tecnológica a crianças e adolescentes; a situação clássica
de "forasteiro perigoso", em que a ameaça parte de um estranho
manipulador; e o elemento de teoria da conspiração.
"Há pouca
evidência de que o jogo já tenha causado algum suicídio, ou mesmo que
exista", disse ele, embora reconhecendo que a história em torno do jogo
seja algo "possível".
Na última
semana, o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, atendeu pedidos do prefeito de
Curitiba, Rafael Greca, e de quatro deputados federais para que a Polícia
Federal investigue o jogo Baleia Azul.
Segundo o
Ministério da Justiça, há relatos sobre adesão e vitimização de adolescentes
que aceitaram desafios propostos pelo jogo em Estados como Paraná, Minas
Gerais, Pernambuco, Maranhão e Amazonas. Ainda não há prisões relacionadas aos
casos.
Devo me
preocupar?
Embora
autoridades na Rússia e no Brasil estejam investigando possíveis elos entre o
suicídio de adolescentes e grupos de pressão na internet, não há relatos
confirmados de ligação com o jogo da Baleia Azul.
O que a policia
procura nessas investigações são conversas prévias entre as vítimas e usuários
de redes sociais que possam ter influenciado as ações. No Brasil, incitação ao
suicídio é crime com pena de dois a seis anos de prisão, em caso consumado.
Também há
relatos de casos de suicídio em investigação na Ucrânia, Casaquistão e no
Quirguistão, com foco com grupos online.
Como
identificar sinais?
Grupos como a
organização britânica de proteção à criança NSPCC oferecem conselhos sobre como
detectar sinais de assédio online de crianças e práticas de construção de
conexão emocional para obtenção de confiança - e também sobre como proteger a
criança do avanço dessas situações.
Há uma série de
possíveis sinais, mas eles não são óbvios porque criminosos costumam procurar a
discrição para evitar serem detectados.
Entre os sinais
e comportamentos mais comuns a serem observados são crianças que:
O que fazer?
O Ceop, agência
do governo britânico de combate à exploração infantil online, ressalta que às
vezes a mudança de comportamento da criança é algo completamente normal, e que
é importante não reagir de modo exagerado.
Ter uma
conversa calma e aberta, diz a agência, é uma maneira eficaz de determinar as
causas de qualquer mudança de comportamento, lidando com preocupações de
maneira franca e oferecendo suporte e apoio moral.
Um programa
educacional preparado pela organização ThinkUKNow também diz ser importante
deixar claro ao jovem que qualquer conversa não irá resultar em punição.
Segundo a ONG, crianças, crianças costumam evitar relatar sua preocupação caso
acreditem, por exemplo, que seu acesso à internet será restringido.
Outro grupo de
aconselhamento britânico, o Get Safe Online, diz ter conhecimento dos relatos
"horríveis" relacionados ao jogo e lamentou que grupos estejam
dispostos a "abusar dessas plataformas (redes sociais)".
Tony Neate,
executivo do grupo, afirma que o diálogo é essencial para enfrentar questões de
pressões de grupo caso a criança esteja "agindo estranhamente".
"Isso
permitirá a criança dar um passo atrás, para longe das pressões", diz ele,
acrescentando que isso ajudará o jovem a perceber que não se trata de
"algo que eles tenham que seguir".
* Com Carlos
Orsi, de São Paulo para a BBC Brasil.
Coronel
Notícias Policiais
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