Artigo: 28 de julho, aniversário de 74 anos da morte de Lampião
Virgulino Ferreira da Silva, nasceu
no dia 04 de junho de 1898 no município de Vila Bela, atual Serra Talhada em
Pernambuco. Na infância e juventude foi um trabalhador sertanejo como qualquer
outro. Porém, depois de uma série de querelas com vizinhos, que culminou na
morte de seu pai, José Ferreira, homem pacato e avesso à violência, veio a
ingressar no cangaço e se tornar o maior ícone do banditismo no Sertão
Nordestino. Ficou para sempre conhecido como “Lampião” o “Rei do cangaço”.
Lampião, por quase vinte anos, percorreu o Nordeste brasileiro, com exceção dos
estados do Piauí e Maranhão, cometendo roubos, saques, assassinatos, sequestros
e outros crimes. Foi emboscado e morto, juntamente com sua companheira e mais
nove comparsas na grota do Angico, na margem direita do rio São Francisco no
município de Poço Redondo em Sergipe. O ataque ao amanhecer do dia 28 de julho
de 1938, foi comandado pelo Tenente João Bezerra da Silva, da Policia Militar
de Alagoas. Era o fim da saga do mais conhecido bandoleiro do Brasil. Herói
para uns, bandido sanguinário para outros, o certo é que, Lampião se tornou um mito
e um símbolo da cultura nordestina. Muito se escreveu e se escreve até os dias
atuais sobre o famoso cangaceiro, mas, o que é pouco divulgado nos livros
acerca do assunto, são os episódios das passagens de Lampião pelo nosso
município entre os anos de 1929 a 1933, estes trechos da história de Virgulino
são muito bem relatados, pelo saudoso advogado, professor, cronista e
ex-delegado de polícia, Jorge de Souza Duarte (1923-2001) em seu livro Lampião
no Município de Juazeiro. Juazeiro: Gráfica Gutenberg, 1997, 103 páginas, o
qual escreve como testemunha ocular da invasão do rei do cangaço à Fazenda
Umbuzeiro, de propriedade de seus avós maternos. Lampião adentrou pela primeira
vez em terras juazeirenses no dia 06 de janeiro de 1929, no povoado de Abóbora,
onde travou um intenso tiroteio contra uma volante da Policia Baiana, comandada
pelo Tenente Odonel Francisco da Silva. Neste combate morreram dois soldados e
o cangaceiro “Mergulhão”. A estada do “Rei do Cangaço” no Município de Juazeiro
é narrada com mais riqueza de detalhes durante sua segunda passagem pela
fazenda dos avós do autor, onde este se encontrava presente na ocasião e
testemunhou os fatos que passo a discorrer. Numa manhã ensolarada no ano de
1933, o escritor, então com 10 anos de idade, passava alguns dias com os pais
na Fazenda Umbuzeiro, próximo ao povoado de Lagoa do Boi, município de
Juazeiro/BA, quando viu a chegada de Lampião e sua hoste. Era a segunda vez que
o cangaceiro “visitava” a propriedade de seus avós. Virgulino chegava com cerca
de trinta e dois comparsas, sujos, famintos e malcheirosos em busca de jóias e
comida. Após saquear todos os pertences de valor existentes na casa, exigiu que
servisse comida para seu bando. Era um ano de muita fartura na região. Os
cangaceiros foram bem servidos e se alimentaram com muita carne de bode e de
carneiro, rapadura, queijo, leite e coalhada. Durante a ocupação dos
cangaceiros, estava também presente um irmão do autor, que tinha menos de três
anos, José Nunes de Souza Duarte (1930-1998), apelidado de “Dedé” (pai do
Policial civil de Juazeiro, José Andrade Duarte, conhecido por “Zezinho”), que
ao ver a casa cheia de pessoas estranhas, começou a chorar incessantemente,
irritando um dos bandidos que se queixou ao chefe, reclamando do barulho. Então,
Lampião determinou que ele colocasse o menino numa rede e balançasse até o
garoto dormir, assim não haveria mais incômodo. O jagunço é claro, obedeceu.
Após serem servidos à vontade e estarem satisfeitos, seu chefe que era um homem
de atitudes contraditórias, procurou saber da proprietária da fazenda, quanto
tinha custado toda a alimentação consumida por seu bando. Ela informou que em
sua casa não cobrava por comida. O cangaceiro, porém, insistiu, e novamente
ouviu a recusa em receber o dinheiro. Então, Lampião retirou de seu bornal, uma
cédula de quinhentos mil réis e deixou sobre a mesa como forma de pagamento,
antes de partirem em três cavalos “emprestados”, os quais, prometeu
posteriormente devolver, mas nunca o fez, disse que quando um dia retornasse, iria
exigir a quantia de três contos de réis, quantia significativa na época. Em
1953, quinze anos após a morte de Lampião, faleceu a Sra. Maria Lino de Souza,
avó do autor, a qual o rei dos cangaceiros havia incumbido de juntar a quantia
de três contos de réis. Maria Nunes Duarte, mãe do escritor, ao revirar
pertences de sua falecida genitora, encontrou numa caixa de madeira, em
cédulas, já sem qualquer valor legal, a quantia solicitada por Virgulino. Ela
havia economizado e guardado o montante solicitado, pois não acreditava nas
inúmeras notícias sobre a morte do famoso bandido. O episódio da passagem de
Lampião pelo município de Juazeiro, nos mostra que a história não é feita de
mocinhos e bandidos, mas sim de gente de carne e osso e escrita por pessoas, sujeitas
a acertos, erros, exageros, verdades e inverdades, e um personagem que é herói
para uns, pode ser perfeitamente bandido para outros, depende do ponto de vista
de cada um. “... Se história fosse escrita pelos
hunos, os bárbaros, seguramente, seriam os romanos”. Jorge de Souza Duarte. Clairton Ribeiro - Acadêmico de História da
Universidade de Pernambuco – Campus Petrolina-PE. Fonte: Blog do Geraldo.
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