Um ano e sete meses sem Beatriz: Lucinha Mota pede auxílio ao Papa Francisco

Em 10 de julho as 15:00

“Ver os dias passarem e nenhuma resposta, nem prisões. Isso nos dá uma sensação de impotência e abandono. Para manter a lucidez e o controle, para não pensar em fazer justiça com as próprias mãos, nós buscamos em Deus a fé e a esperança.”

Este é o sentimento da família de Beatriz Mota, descrito hoje, dia dez de julho de 2017. Um ano e sete meses do brutal assassinato que tirou a vida de uma criança de apenas 7 anos. A Noite de horror aconteceu no Colégio Maria Auxiliadora, em Petrolina(PE), durante uma festa de formatura. O evento reunia quase três mil pessoas e o acesso ao local era livre. A instituição não providenciou senhas de acesso e também não reforçou a segurança para a festa.

Mesmo com um número grande de pessoas, ninguém viu nada naquela noite em que a criança foi morta a golpes de faca.

O caso já passou por três delegados. Dois retratos falados distintos foram divulgados. Por último, se chegou a uma imagem do acusado, que a delegada atual do caso não tem dúvidas ser do assassino.  Durante os dezenove meses sem Beatriz, a família da criança e o movimento “Somos Todos Beatriz” não descansaram nos pedidos de justiça e nos gritos contra a impunidade.

Os pais da criança e integrantes do movimento já ocuparam todos os espaços possíveis, na ânsia de justiça para o caso. Já falaram com presidente da república; Já foram a Brasilia conversar com o então ministro da justiça; Ao Recife, foram três vezes e lá interditaram avenida, procuraram deputados, ocuparam a frente do Ministério Público Estadual, apelaram para o governador e até agora as investigações não chegaram a lugar nenhum. E nem a ninguém.

Um mistério! O caso Beatriz corre em segredo de justiça, uma decisão do MP que os pais e a sociedade estranham, deveras.

Os pais da menina estranham também o fato de alguém, ligado ao colégio, ter apagado as imagens das câmeras de segurança, feitas no dia do crime e essa pessoa não ter sido ainda detida, como acusam os pais de Beatriz.

O pai, Sandro Romilton, quer a abertura do inquérito.

“Vamos reapresentar o pedido de abertura do inquérito, a quebra de sigilo do mesmo. Iremos solicitar a inclusão de um profissional para acompanhar as investigações como assistente de perícia. Iremos, juntamente com a equipe de advogados da OAB subseção Juazeiro, pedir formalmente a prisão do (a) funcionário(a) da escola que apagou as imagens das câmeras de vigilância. E vamos acionar o Ministério Público Federal”, relatou Sandro Romilton.

Diante de tanto silêncio, a quem mais apelar? Ao papa? Isso mesmo. Sandro e Lucinha, mãe da criança, bravos e incansáveis na luta pela elucidação do crime, enviaram uma carta ao Papa Francisco, suplicando um auxílio. Pedindo ao papa que, de alguma forma, interceda na elucidação deste crime que aconteceu em “uma escola católica administrada pelas freiras “Filhas de Maria”.

Diz a carta, que também pode ser acessada aqui:

Santo Padre,

Com profundo respeito, fé e esperança, entrego em vossas mãos esta carta que relata uma tragédia familiar e a dor de uma mãe em busca de justiça.

Todo povo brasileiro compartilha da preocupação de Vossa Santidade em se solidarizar com as mazelas sociais que afetam profundamente nossas famílias.

Quero compartilhar com Vossa Santidade um acontecimento que destruiu completamente minha família.

No dia 10 de dezembro de 2015, num evento festivo que acontecia numa escola católica administrada pelas freiras “Filhas de Maria” – o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora de Petrolina-Pernambuco, que pertence a Rede Salesiana de Escolas – a minha filha, Beatriz Angélica Mota F. da Silva (7), foi brutal e covardemente assassinada a facadas dentro daquelas dependências.

Esse crime ainda não foi solucionado. QUERO RESPOSTAS. PRECISO DE JUSTIÇA.

Santo Padre,

O Evangelho é a grande mensagem da Vida, plenamente revelada na pessoa e na palavra de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Eu deposito minha fé na crença de que DEUS AMA A JUSTIÇA.

Não consigo continuar vivendo esse sentimento de injustiça. As autoridades policiais não possuem estrutura para atender nosso clamor. A instituição (Escola Católica) NÃO nos ajuda, omite informações, e ainda age como se estivéssemos na idade das trevas. A administração dessa entidade se utiliza de subterfúgios procurando esconder importantes evidências, obstruindo as investigações e procurando descredenciar os trabalhos já realizados pelos investigadores do caso, mesmo porque, alguns de seus funcionários são os principais suspeitos na facilitação dessa atrocidade. E isso contradiz radicalmente o ideal evangélico apoiado pelas instituições religiosas de nosso país.

Existe uma mancha indelével na nossa sociedade e esse estranho comportamento dessa escola católica afasta as famílias do Vale do São Francisco da nossa Santa Igreja.

Papa Francisco,

Vossa venerável pessoa, na qualidade de Pastor Supremo da Igreja, sendo internacionalmente reconhecido como grande líder moral da humanidade exerce um papel profético capaz de atingir as consciências e intervir no auxílio ou mesmo no sentido de sensibilizar as autoridades policiais, Ministério Público e Governador do estado de Pernambuco, como também os administradores do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora de Petrolina a cooperarem com a elucidação desse hediondo crime. E principalmente dar publicidade às imagens do assassino recentemente reveladas pela Polícia Civil de Pernambuco.

Enquanto não forem esclarecidos todos os fatos e os seus reais culpados não forem punidos existirá uma dúvida em nossa comunidade de que algumas instituições católicas trabalham para esconder práticas condenáveis de alguns de seus membros.

Querido Irmão Maior, OUÇA O MEU CLAMOR e venha em meu socorro com sua palavra de ânimo e com seus gestos divinos, capazes de expressar o Evangelho como a grande Mensagem da Alegria, da Esperança, da solidariedade e da compaixão para com todos.

Maria Lúcia Mota da Silva, Mãe de Beatriz Angélica Mota F. da Silva.

Juazeiro, Bahia.

Brasil, 10 de Julho de 2017.